sexta-feira, 5 de dezembro de 2008



CONSTRUINDO HISTÓRIA
Por Verbena Córdula - Profª de história da 7ª série

A turma da 7ª série do Ensino Fundamental realizou um trabalho com moradores de rua do Centro Histórico de Salvador, local onde está situado o Colégio Estadual Azevedo Fernandes. A idéia partiu após terem estudado acerca das condições de trabalho no Brasil, do período colonial aos dias atuais, o que revelou uma série de mazelas no País, muitas delas resquícios do sistema escravocrata e da continuidade do processo de exclusão social e marginalização de uma parcela considerável da sociedade.


Considerando uma série de mazelas sociais, os estudantes foram solicitados a escolher uma delas, a partir da qual seria realizado um trabalho de pesquisa, que, a princípio, daria origem a um livro. A escolha, unânime, foi que se trabalharia com os moradores de rua. Após isso, montou-se um roteiro com assuntos que seriam trabalhados dentro do grande tema Moradores de rua do Centro Histórico de Salvador, que dariam origem aos capítulos do livro.

Primeiramente, após construção do roteiro, pesquisamos, na Internet, informações que dessem conta da temática. Uma das mais importantes informações que conseguimos foi uma pesquisa encomendada pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) e divulgada em abril deste ano, em Brasília, que revela o perfil dos moradores de rua brasileiros. Os pesquisadores escolheram cidades com mais de 300 mil habitantes e saíram a campo entrevistando moradores de rua com mais de 18 anos de idade. A principal conclusão do estudo é que as pessoas em situação de mendicância são em sua maioria homens alfabetizados e jovens, que abandonaram suas casas por problemas com álcool ou drogas ou por terem perdido o emprego.

As pesquisas com moradores do Centro Histórico de Salvador revelou que, em alguma medida, esta pesquisa realizada pelo governo é verdadeira, uma vez que encontramos morador de rua quase formado em Magistério, que saiu de casa por problemas familiares, outra que também é alfabetizada e que foi expulsa da própria casa, pela filha, revelando que na maioria dos casos,os problemas familiares “jogam” essas pessoas nas ruas.

O grande objetivo da pesquisa foi conscientizar os estudantes dos problemas que afligem a sociedade onde estão inseridos, bem como mostrá-los que, apesar de viverem nas ruas, sob condições precárias e desumanas, essas pessoas merecem ser tratadas com respeito e dignidade. A pesquisa objetivou, ainda, mostrar o quanto o nosso país necessita de políticas públicas que garantam educação, emprego e renda aos cidadãos.

Embora quiséssemos montar um livro, o tempo foi insuficiente par fazê-lo. Aproveitando a presença do programa NTE vai à Escola, resolvemos postar algum material no Blog, e dar continuidade ao trabalho no próximo ano letivo, para que possamos editar o livro.

APESAR DE USAR CRACK
RECONHECE PODER DE DESTRUIÇÃO DA DROGA
Por Ana Paula Santos - Aluna da 7ª série

Roberto Borges tem 41 anos e mora na rua há 25 anos. Ele morava em São Paulo, tomava conta de um sítio, estudou até a 4ª serie do Ensino Fundamental, saiu de da escola com 10 anos. Veio pra Salvador em 83 e desde então mora na rua. Saiu de São Paulo porque tinha problemas com a Justiça.

O paulista diz não se arrepender de ter saído de casa. Tem 5 irmãos e 2 irmãs, não sabe se os pais estão vivos e não tem vontade de reencontrar a família. Usa drogas há 14 anos, faz trabalhos braçais pra ganhar 5,00 (cinco reais), e compra drogas. Ele colocou fogo no próprio corpo por causa das drogas e foi parar no Hospital Geral do Estado( HGE ).

Roberto afirma que a maior dificuldade de morar na rua são as drogas e que é muito difícil de parar. Mas diz também não querer ir para um centro de recuperação, mesmo já tendo visto mais de 30 pessoas morrerem por causa das drogas.

Esse paulista, apesar de usar droga (crack) é consciente de que isso estragou sua vida. Durante a entrevista, perguntamos se ele estava com fome e se gostaria de dinheiro para comprar alguma comida, mas, demonstrando honestidade, disse que havia comido e que se recebesse qualquer quantia iria comprar droga.

EXPULSA DE CASA PELA PRÓPRIA FILHA
Por Paulo Júnior - Aluno da 7ª série

Ela necessita de remédios, mas não tem dinheiro para comprar. Se prostitui para ganhar a vida, mas garante que morou em um belo apartamento no Corredor da Vitória, mas foi colocada para fora de casa, pela própria filha.

Esta mulher de 53 anos se emociona quando fala da sua situação, principalmente da ingratidão da filha, que a expulsou de casa. Mesmo se prostituindo, garante que não dá para ter um abrigo para morar, porque o que ganha é pouco. Para minimizar o sofrimento, conta com a ajuda de um proprietário de farmácia, que lhe doa remédios e com o auxílio de uma entidade que ajuda mulheres desamparadas.

Apesar de todas as dificuldades, conseguiu uma estudante de Direito que a está ajudando a recuperar os seus bens. Mas garante que o que mais lhe faria feliz seria ouvir um “eu te amo” da filha.
APESAR DAS DIFICULDADES, ELE GOSTA DE MORAR NA RUA
Por Alan Duarte - série Aluno da 7ª

Antonio Carlos Oliveira Santos, 29 anos, morava na casa da mãe, no bairro Mirantes de Periperi, e resolveu sair de casa para trabalhar na rua. Há quase um ano na rua, ele diz que não troca a vida que tem por outra, porque já se acostumou. Antonio Carlos vive de pequenos trabalhos na rua, ele dorme em um caixa eletrônico do banco Bradesco, localizado no Comercio.

Este morador de rua, que só estudou até a 4ª série do Ensino Fundamental, diz ganhar mais do que muitos trabalhadores que têm carteira assinada. Antonio Carlos garante que consegue por mês a quantia de aproximadamente 900 reais, carregando materiais diversos, como cadeiras para trançadeiras, mesas para donos de barracas, etc. Cada viagem custa 3 reais.

Antonio Carlos afirma que as pessoas normalmente o tratam bem e que não costuma se meter em confusões. No entanto, diz que, às vezes, policiais lhe chamam atenção, mas que nunca acontece nada, porque a maioria das pessoas sabe que ele é uma pessoa de boa conduta.
Ele garante que sua vida seria pior em casa do que estando na rua, embora a maioria das pessoas que vivem na rua não pensem como ele.

O “QUASE” PROFESSOR E CANTOR DA NOITE
QUE SONHA EM SE REINTEGRAR À SOCIEDADE
Safira Pereira - Aluna da 7ª série
Sérgio Souza tem 37 anos, estudou em Ribeira do Pombal até o 2º ano de Magistério e tem 12 irmãos - 6 mulheres e 6 homens. Sua família mora em Paripe, aqui em Salvador. O pai tem 79 anos e se chama Osvaldo Borges. Sérgio é cantor, e já trabalhou em muitos bares, mas a bebida o colocou nas ruas. O quase professor saiu de casa por problemas familiares e está na rua há mais de 10 anos.

Ele cantava em bares pra ganhar dinheiro até que começou a beber e com isso começou a chegar atrasado, perdendo as oportunidades que apareciam em sua vida. Antes disso, já viajou pra Belo Horizonte, Goiânia, São Paulo, e trabalhou 8 anos em Canavieiras, na Barraca do Preto Velho, até ser despedido, por causa da bebida alcoólica.

Sérgio tinha envolvimento com uma mulher até vir pras ruas de Salvador, no Pelourinho. Há 10 anos, quando chegou aqui, trabalhou como cantor nos bares e dava pra pagar uma hospedagem. No entanto, mais uma vez a bebida atrapalhou e então teve que morar nas ruas, sobrevivendo da caridade alheia.

Ele diz que morar nas ruas é muito duro, mas que nunca se envolveu com drogas. Já foi ferido, com facadas, mas conseguiu sobreviver. Sérgio conta que, muitas vezes, as pessoas confundem morador de rua com bandido e discriminam, a Polícia os trata mal... O quase professor diz sonhar em se reintegrar à sociedade, mas afirma que a bebida atrapalha muito.

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